sábado, dezembro 30

Porto alegre, 28 de dezembro

Minha querida,

Nessa carta não falarei do tempo, nem das águas cristalinas dos rios ou de como me encanto com as borboletas em segundas-feiras.
Tenho algo mais importante a revelar. Venho por meio dessa lhe informar que estou enloquecendo. E não é em vão que tomo conclusão desse fato, acredite. Na carta anterior pensei em lhe avisar, mas me parecia recíproco demais. Agora tenho certeza. Não há mais o que fazer. Não precisas perder tempo com qualquer tentativa de recuperar minha sanidade - ela está se indo de vez. Sei que deves se perguntar da onde tirei tal absurdo, mas nem eu mesmo sei. Apenas sinto a noção de realidade saindo completamente de mim. Não querida, não são os chás que andei fazendo com minhas plantações. Ou talvez sejam, mas não há antidotos mesmo. Temo que sejam coisas da minha mente que me dizem isso, em todo caso se confirmar-se, seria só mais uma prova do que lhe confesso.
As tardes sem tua presença tem me feito mal, querida, eu sinto sua falta. Não se preocupe, a perda da minha consciência não me trará a morte tão cedo. Lamento informar, terá que se acustumar com algumas coisas. Não serei mais o que custumava ser, apenas só mais um desses poetas sonhadores. Mas não nego, é encantador a proposta de me tornar totalmente um deles, coisa que desejei a vida inteira. Não desse modo, ambos sabemos, mas agora é inevitável. Está tudo feito, e talvez, admito, sejam tuas as culpas. Sabes como me confundes toda vez que te vejo, e que ao longo desses dias em que não pude olhar teus cabelos lisos tenho me tornado mais amargo e triste. Sempre lidei bem com a solidão, mesmo quando ainda a tinha comigo. Vivias se esquecendo de mim e meus pensamentos se afundavam sozinhos, até quando nossa sala permanecia cheia de visitas agradáveis. Mas agora não quero me prolongar nesse assunto, minha querida. Sabes que tenho total carinho por ti, e não pretendo perdê-lo, mesmo quando rejeitas minhas cartas por meses.
Espero que essa carta lhe toque, não por estar ficando louco, mas pela tamanha sinceridade que expresso. Nunca foi qualidade minha ser assim, embora sempre tenha me esforçado. Sim, querida, sei que sempre me quis sincero, e agora que em partes assim me torno, gostarias que conversassemos mais. Talvez seja pedir muito, mas se prestares atenção em mim, verás que não. Sou digno de teu respeito, e se me permite dizer, de tuas respostas, que espero ansioso.
Começo por encerrar - embora seja meio contraditório - este que o lê. Pois minha vista está cansada e os primeiros sinais da loucura vêm me invadindo. Volto a pedir que não se preocupe comigo, continuarei mandando notícias enquanto ainda tiver lucidez para chegar ao correio.


Com meus sinceros afetos(que conheces muito bem),
Antônio.

terça-feira, dezembro 26

Bobo, porém sincero

em quatro versos meus não caberia
tu, belas palavras
que agora sendo meu,
virou minha poesia.

domingo, dezembro 24

O que você quer de Natal?

É o seguinte: você tá lá na sua, ouvindo música e tudo mais. Daí algum chato resolve que você deve estar entediado e resolve puxar um assunto beeeem furado. O Chato pode ser a sua tia, que misteriosamente apareceu no seu quarto - você nem sabia que ela estava na sua casa, quanto mais que entraria no seu quarto! -, ou qualquer um desses parentes que você nunca descobriu que grau de parentesco têm com você. Ou até sua mãe, que adora ser engraçadinha de vez enquando. Mas vamos supor que é a sua tia(qualquer tia), ok?
Então você está lá se esbaldando em paz, quando chega a chata da sua tia, falando meloso:
- E aí, já escreveu pro Papaei Noel?
Ok, você é o caçula da família, o menor de oito primos, mas você já tem dezesseis anos e eles continuam achando que você tem seis. Você respira fundo, conta até dez, e responde com um sorriso amarelo:
- Hehe, ainda não.
Você não resiste, vira pro lado e faz uma careta enquanto pensa "mas que diabos, por que essa velha não se toca?"
- Assim ele não vai saber o que te dar, queridinho.
- Poisé.
Você tenta inutilmente cortar a conversa, começa a bocejar, a fingir que tá com sono, diz que faz três noites que não dorme, voltou de uma festa tarde, tá cansado, QUER FICAR SOZINHO. Mas claro, a sua tia entende que você só está se abrindo com ela, e não percebe o convite pra se retirar.
- Se comporto direitinho esse ano, subrinhuzinhu?
Já não bastasse o assunto chato pra burro, ela resolve terminar todas as frazes com diminutivos. Ótimo, era tudo que você precisava.
- Aham, tia.
- Tá quietinho por quê? Aconteceu alguma coisa? É o amor, né? Eu sabia... o menininho da tia tá apaixonado, que amorzinhu!
Você concorda, é isso aí, tomara que ela me deixe sofrendo por amor e vá embora. Logo você percebe que estava errado, ela não vai embora tão cedo. Daí ela resolve que sabe de tudo, que é experiente, que vai dar uns conselhos, afinal tia é pra essas cosias.
- Quem é ela? É do colégio? Claro que é, né? É da sua turma, não é? Eu sabia! Viu, depois de uma certa idade você só precisa olhar no olho da pessoa pra saber o que está acontecendo. Existem vantagens em ser velho, digo, velho não, maduro, viu sobrinhuzinhu? Existem sim, você quer saber quais são? Quer, eu sei. Deixa eu te contar. Por exemplo, agora, depois de madura, eu entendo tudo sobre homens, depois que me separei do seu tio, então! Tenho vivido cada aventura...!
Dizer que tá cansado não adianta, você sabe, então tenta outra tática. Olha ameaçadoramente pra ela, e depois pra porta. Ela fecha a cara. Pelo menos agora ela entendeu.
- Tá, eu não vou mais ficar falando sobre mim.
Ufa! Você não aguentava mais. Daí ela levanta, você pensa que ela vai sair do seu quarto, mas ela vai até a mesa do computador e se senta.
- Voltamos então ao seu problema... Que é mais importante que isso, não é? Vamos ver... ela deve ser muito bonita, não? Claro que sim, você é um menino de bom gosto. E inteligente também, claro. Deve ter muitos caras atras dela, mas você não pode desistir! E bom, se ela não te quiser, terão muitas outras. Eu sei, eu sei, quando a gente é pequeno acha que todo amor é pra vida toda, mas eu vou te dizer: não são não! Eu quando casei com seu tio, achei que ia morrer ao lado dele. E imagina só, cinco anos depois já estavamos separadíssimos! E isso que os outros namorados que eu tive nem um ano ficaram. É, parece inacreditáavel, mas amores não são para a vida toda. É duro, eu sei, mas você supera. A gente sempre acha que não supera, mas supera sim.
Puxa vida, como ela conhece tantas palavras? Ela não para pra respirar não? Afinal, o que ela veio fazer no seu quarto? Ou melhor, o que ela tá fazendo na sua casa? Ela não tem casa? Ela tem, você sabe, já teve o desprazer de ir lá.
- Pra você se declarar tem que ser romântico. Não sei quem disse que flores tão ultrapassadas. Tem coisa mais moderna do que escrever uma carta e mandar flores? Toda mulher adora, pode ter certeza. Mesmo as mais meninas, como essa que você gosta. Você não escreve, né? Procure alguma coisa de poesia então, Byron, Drummont, sua mãe deve ter alguma coisa. As garotas adoram! E pode até dizer que foi você quem escreveu, ela vai fica derretida por você, sobrinhuzinhu.
Você está prestes a ter um ataque, quase matando todo mundo, se perguntando por que você, que estava ali na sua, por que logo você, que estava sem fazer nada de mal pra ninguém. Daí, por algum motivo absurdo, que você não sabe da onde veio, você diz:
- Tia, não é uma menina.
- Não?
- Eu tô apaixonado por um menino. Eu sou gay, tia.
Você realmente não sabe porque disse isso. Você não está apaixonado, e muito menos é gay. Mas a sua tia conseguiu extrapolar o limite da sua consciência. Você resolve não falar mais nada antes que piore as coisas. Outra hora diz que é brincadeira. Mas agora não dá tempo. Precisa que a tia saia. Precisar retomar a lucidez. Talvez você ligue pra ela pra explicar tudo depois. Não, você não vai ligar, você sabe. Azar o dela.
Pelo menos você conseguiu o que queria, ela se calou. Você se concentra pra não rir da cara de pânico dela. Ela sorri, diz alguma coisa como "certo, certo" afinal ela entende, ela é uma tia moderna.
- Bom, se o meu sobrinhuzinhu quiser ajuda mesmo assim, a tia tá aqui... tá?
Não é possível, a velha realmente tirou diploma em enxer o saco. Você começa a perder a calma.
- Não tia, eu prefiro ficar na minha.
- Certo...
A sua paciência está no limite, você se sente extremamente irritado, e teme alguma atitude agressiva se a chata da sua tia não sair do seu quarto. Para sua felicidade, ela levanta, e dessa vez vai em direção a porta. Você respira aliviado, deita na cama. Finalmente vai poder ficar sozinho. Acompanha contente o barulho dos passos dela, os pés parando diante da porta, a maçaneta sendo aberta, a porta rangendo... silêncio. Ela podia pelo menos fechar a porta quando saisse, velha chata. Você está se levantando pra trancar o quarto, quando ouve um suspiro. Não pode ser. Espia, é real, vê ela dando meia volta e dizendo:
- Mas você não me contou ainda, queridinhu, o que pediu pro Papai Noel?

quinta-feira, dezembro 21

Em preto e branco

meus olhos encontram o teu em preto e branco,
do meu lado alguma coisa sussurra
não tenho certeza se são teus lábios ou os meus,
arrisco ouvi-los de qualquer forma
enquanto me aperto entre a cadeira, tentando diminuir, não sei se de tamanho ou expressão
é em vão, falho, aumento, extrapolo os limites que um dia eu pensei ter
mergulho em ti e te vejo mergulhando em desespero
não grito nem avanço, apenas nossos olhos cinzas, apenas teu sorriso morrendo
deito tua calma e te exponho, completa e conscientemente
dou cor pros teus lábios em tons de vermelho berrante
a luz e o som se confundem, como ondas que erraram o caminho
misturam-se perplexos entre o diálogo
não é teu ego que berra, é o meu que cala

segunda-feira, dezembro 18

Meio-fio

Parou. Olho pros dois lados com os olhos esbugalhados. Nada.Sentou ainda perplexa no meio-fio, ficou contente de não encontrar ninguém no caminho do consultório até ali.

Abriu a bolsa com cuidado, viu cair a agenda. Deixou que rolasse até que aberta cessasse, esmagando todas, ou se não muitas das páginas, que cuidadosamente anotara o telefone de quem algum dia lhe fez sentido, mas não faziam mais. Tentou ainda pensar em uma excessão, alguém que pudesse ligar e confessar seus pecados, não encontrou. Nenhum deles, todos imundos em seus mundos hipócritas. Queimou com os olhos a agenda cinza-cor-de-solidão, e depois queimou o dedo pegando o esqueiro, para então, e diria finalmente, transformar aquelas páginas, de A a Z, em apenas cinzas.

Contemplou a rua, ensaiou risadas, virou-se para si, e viu em seu próprio colo o que tanto procurava. Segurou com força a caneta, e fez a lista de coisas que ainda tinha que fazer. Triunfante, ergueu os olhos o mais alto que pode e visualizou o céu encantada, pensou não ser forte o suficiente, caiu sobre seus ombros, culpada, mais desiludida que culpada, mas ainda sim morrendo. Bateu os pés com força, com tanta força que seus sapatos se afundaram, abaixou a cabeça como se a raiva viesse de cima, e de alguma forma fizesse sentido desviar-se. Respirava alto tentando provar que estava viva, que não morria aos poucos, que seu coração ainda estava inteiro e que tudo que haviam lhe dito a meia hora átras era mentira.

Então é isso, pensou, mas negou qualquer aceitação, e por alguns instantes tentou acreditar que tudo fosse apenas um sonho. Ilusão. Todas essas pequenas doenças nesses últimos meses eram apenas uma amostra da original, sabia onde tudo acabaria, qualquer que fosse o caminho percorrido, não tinha mais escolhas. Aids. Ela, portadora do vírus HIV.

Fechou os olhos para que não escutasse mais os gritos e assim esquecesse que existiam, se pôs de pé, olhou pra cima outra vez. Tudo bem ser frágil, bem frágil, parecia necessário no momento. Recuou um passo pra trás, não pegando impulso, mas como uma tentativa de ficar mais longe do destino. Com o desespero transbordando pelos lábios, deixou que lançasse a caneta que tinha na mão o mais longe possível, enquanto seu corpo desabava e seus olhos se enchiam de rios.

quinta-feira, dezembro 14

Alguma coisa sobre o passado

Me veio na cabeça alguma coisa sobre como as músicas que eu ouvia há algum tempo eram as mesmas que enquanto ouvia, desprezava, total e conscientemente. Alguma coisa sobre o tempo em que o quê eles pensassem era certo. O que eu pensava também, mas não por ser certo, e sim por largar meus pensamentos e adotar os deles.
E eu vivia alguma espécie de crescimento atrazado-acelerado, se é que faz algum sentido. As espécies de coisas que eu era não faziam muito sentido mesmo. E eu continuei sendo por muito tempo, assim, sem fazer sentido nem nada.
Mas não só o que eles pensavam era certo, mas o que vestiam, ouviam, faziam, as formas estranhas que andavam, os lugares que iam, eticetera. Sei que só não fui totalmente transformada neles porque não consegui desvendá-los por completo, e quando quase desvendei, desisti. Não porque me parecia demasiado difícil, e sim porque na verdade, depois de um certo tempo, eles se tornaram chatos e tediosos.

segunda-feira, dezembro 11

É ele.

Um dia você acorda e ele está lá. Sentado na sua poltrona. Lá, onde sempre esteve. Olhando qualquer detalhe na sua parede que você jamais reparou. E você sabe que é ele, sentado tragando um cigarro com timidez, é ele. ELE.

E ele vai preencher suas tardes com sorrisos e silêncios. E vocês vão rir juntos e contentes. Ele vai abrir a porta pra você sair do taxi. Ele vai trazer flores no seu aniversário. Vai te abraçar com sinceridade, não como quem quer te agradar, mas como um amigo que te aceita.

E ele vai te aceitar. E vai amar seus soluçõs e rir dos seus arrotos. Vai achar charmoso as suas pintinhas, e vai te ajudar a andar nos dias de chuva que o joelho insiste em doer. E vai te dizer que o cabelo tá despenteado, que a maquiagem tá borrada, que você fica linda sorrindo.

Ele vai sorrir quando provar o bolo que você fez, vai dizer alguma coisa boba sempre que você parecer triste. Vai abrir mão de sair quando você precisar conversar, vai te ouvir, e principalmente, te calar.

E ele calado, fica te mirando. Onde ele esteve o tempo todo, lá.
E daí você acorda, e vê que bem na sua poltrona, logo na sua poltrona, ele permanece sentado, mas não só sentado como parado, olhando um detalhe na sua parede que, infelizmente, você nunca notou.

É ela.

Ela tá aqui. Tu sabe que é ela, sempre soube. Ela sorri e tu sabe, tu sente. Tá no riso dela, no brilho dos teus olhos. É ela e pronto.
E é ela mesmo que ela vá embora, mesmo que deixe de ser.
Na boca, no rosto, na flecha piscando em cima da cabeça dela, tudo diz que é ela. Nada importa, nunca importou mesmo.
Ela também. Também sabe. É, ela sabe, e fica aqui. Ela tá aqui. Bem diante dos teus olhos e tu fecha os olhos, e ela fica aqui, parada na tua frente enquanto tu fica tentando mentir pra ti mesmo que não, não pode ser ela, não ela, justamente ela.
Tu fuma um cigarro achando que pode vencer o silêncio, ela? ela só entende, tu? tu tenta dizer alguma coisa sem sentido,
- É tu.
- Quê?
- Nada.
Tu acha realmente que ela não sabe, mas ela sabe, só em ser ela já fica sabendo. E é claro que ela sabe, ela vê,
- Tu, eu disse que é tu.
- Eu?
- Tu mesma.
- É, eu sei.

quarta-feira, dezembro 6

Temporariamente Fora do Ar

Agora com a cabeça nas nuvens, honey.
(quase enloquecendo)

segunda-feira, novembro 27

Raio de Sol e Brilho da Lua

Nos olhos deles se percebia qualquer coisa que lembrasse ternura
eles estavam juntos no olhar
não precisavam de um passado bonito
ou um futuro perfeito
onde eles sequer estivessem de mãos dadas
precisavam somente daquele momento
do raio de sol e do brilho da lua
que invadia conscientemente a janela deles toda vez em que um pensava no outro
e então durante semanas os seus respectivos quartos se enxeram de raios de sol e de brilhos da lua

e não é como se fosse pra sempre
ou um amor ideal
apenas dois desejos bem aproveitados
que são durante instantes
os únicos instantes da vida deles

terça-feira, novembro 21

A janela do prédio ao lado

Carolina dançava as três da tarde. Em todas as tardes. Todos os meses. Durante muito tempo, Carolina chorava movimentos.
Enquanto eu via do outro lado da rua, as lágrimas desenhadas no ar pareciam ficar cravadas aonde ela colocasse o braço, a perna, aonde seu corpo invadia, a lágrima ficava. E não havia mistério, era tão simples entendê-la, que se não dançasse tão bonito diria até que era entediante passar aquelas horas ali mirando-a do quinto andar.
No começo eu espiava de relance, quando passava pela janela. Menina triste dançando. Comecei então a inventar desculpas pra alcançar a vista dela, trocando coisas lá e aqui só pra conseguir passar pela janela e vê-la dançar. E nem a achava bonita e também sua dança me parecia estranha de mais.
Teve um dia que me peguei parado, imovél, só admirando a sua beleza oculta.
Por trás daqueles cabelos compridos tinha um rosto fino e sincero, mas que se escondiam. Recorria então a dança dela, mas no entanto ela também se escondia. Os movimentos pareciam ser cortados e envergonhada ela reprimia o choro. Comecei a observá-la sempre que podia, e a enfeitava com batom e uma voz doce, tentando tornar mais apetitosa a sua aparência.
Certa vez, já acustumado a esperar por ela as três horas, Carolina não apareceu. Talvez ela tenha cresido e a deixado pra lá a dança, pensei. Tinha notado que seus movimentos desenhavam o ar com muito mais desenvolver e sedução e sem a vergonha que a reprimia antes. Seus seios estavam fartos e vez e outra usava maquiagem, mas nunca a olhara como uma futura mulher, apenas como uma eterna menina que dançava para mim na frente do espelho.
Voltei na tarde seguinte, e na outra e em todas as que sucederam, mas o máximo que consigui, foi vê-la consagrando o próprio reflexo, conferindo a roupa antes de sair.
Agora deve dançar por aí, em uma dessas boates onde as mulheres bailam a noite toda. E tem os cabelos curtos e espivetados, reforçando sua independência e feminilidade. Misturado entre suas coisas no quarto se encontra o espelho, rachado no canto, marcando a minha velhice e a passagem da infância dela.
Algumas vezes ainda me esqueço que ela virou uma mulher, e insisto em esperá-la as três da tarde. Outras apenas tenho a esperança de que se arrependa e volte a dançar pra mim. Enquanto na verdade eu sei que agora ela dança por aí para todos os homens, não mais na inocência e poesia que o fazia nas tardes em que eu a olhava, mas com intenção de conquistar corações, enquanto destrói o meu.

domingo, novembro 19

o que importa

Me pegou de surpresa, ok, mas era uma reação normal, o que eu podia esperar? De qualquer forma eu não espero nada mesmo. Mas infelizmente, meu livro de matemática me espera em cima da cama. E eu insisto em atrazar nosso encontro. Não pelo desprezo, mais pelo medo de abrir e ver que ele é um total estranho pra mim. Se é que dá pra entender a metáfora. A dupla metáfora de todos os encontros da minha vida e a matemática. Enfim. O livro continua lá, e eu aqui. Estamos os dois felizes. E afinal felicidade é o que importa, não?
Não. O que importa é muito mais grande que isso, e envolve respeito e dedicação e não felicidade. Ou talvez envolva felicidade também. É, envolve repeito dedicação e felicidade. E um pouco de amor. Então é isso, respeito dedicação felicidade e amor. O kit perfeito. Quem sabe se tiver alegria... Respeito dedicação felicidade amor e alegria. Pronto. Ok ok, bota dinheiro aí também, não faz mal a ninguém. Respeito dedicação felicidade amor alegria e dinheiro. E quem sabe paz, todo mundo quer paz, não é? E deu também. Nem mais uma palavra, nem mais nada. Chega de enrolação. Decidido: o que importa é isso, respeito dedicação felicidade amor alegria dinheiro paz e o resto a gente corre atrás.

Pós Escrito: Ok, meu processo criativo tá lento e fraquinho, seja compreensivo.

segunda-feira, novembro 13

Geografia e seus vários modos de me atormentar

Eu me recordo com pavor da cara da professora de geografia e de quando ela nos dizia cruelmente que vocês falam muito bonito, tem um ótimo papo, mas é só isso, na hora de fazer, nada, nada, nada, nada, nada... nada?
Não me recordo exatamente a cara que ela fez nessa hora precisamente, mas da cara dela em si, porque abaixei a cabeça por pura e simples vergonha no momento em que ela nos abordou no corredor dos ármarios a fim de nos dizer que a gente era muita conversa e pouca ação.
Se meu dia já estava bastante atormentado, se meu coração já estava confuso o suficiente, pouco importava, ela nos olhou nos olhos, e nos disse sem pestanejar um monte de palavras que fizeram meus cabelos cairem na cara, tentando me esconder enquanto o discurso não terminava, e não terminava nunca.
E nos traumatizou tanto que no meio da conversa não conseguiamos nem mais retrucar, e continuou até que eu quase que chorando pedisse em suplicas pára! Tá me deixando deprimida, e puxa, eu já tava mega deprimida. Como boa professora falou algumas frases antes de terminar só pra porvar que era superior-a-qualquer-pedido-de-um-aluno-e-fazia-o-que-bem-entendia. E como se não bastasse fazer com que nos sentissemos as piores criaturas da face da terra, caminhou na nossa frente achando que fazia parte de um desfile de moda enquanto sua trilha sonora era o sino do colégio, que dizia que a prova de geografia iria começar.
Relevos, climas, hidrografia, localização, enfim, mapas em geral nunca foram meu forte. E como a parte política, econômica e que envolve o desemprego no país devido a inflação e o socialismo em Cuba nunca caem em testes de geografia, o sino do colégio pra mim mais anunciava o fim da prova do que o começo dela.

pós escrito : fiquei em dúvida em qual dos blogs postar, mas vai nesse mesmo.

sexta-feira, novembro 10

Sexta série

"sério, a sexta série foi a 100 anos"

Sexta série... sexta série... eu achava que era gente.
Dái quando eu cheguei no segundo grau descobri que a gente só vira gente mesmo quando passa da sétima. Quando chega na oitava, quase isso.
Tá que eu sei que daqui a um tempo eu vou dizer, porque a gente só vira gente quando sai do colégio, e assim até o infinito, mas tudo bem. Vou continuar achando que eu tenho algum valor no mundo.
Eu lembro da sexta série... não tão bem quanto gostaria, mas lembro. Eu ainda usava aquelas calças justas que tinham saido de moda desde meus cinco anos, mas a minha mãe continuava comprando, e como eu não ligava pra roupas, eu continuava usando.
O meu cabelo eu usava preso. Ele simplesmente não existia. Um rabo de cavalo de manhã, antes que eu mesma me olhasse no espelho. Acho que foi a fase que eu menos tive auto-estima na minha vida. A coisa era triste.
Eu era mais gordinha do que hoje, mais alegre do que hoje e até mais inteligente do que hoje. Eu fazia crochê nas terças de manhã. Mentira, eu quase-fazia crochê nas terças de manhã. É que eu estudava a tarde, e ia pro colégio de manhã e fazia crochê até que batesse pro recreio dos mais velhos. Claro que eu não fazia mais nada a partir dai, olhar os cabelos macios balançando dos garotos do primeiro ano era a diversão não só minha, mas de toda a turma.
Eu não me lembro o que eu fazia das minhas tardes, mas esperava anciosa as terças pra que pudesse vê-los. E era tão bonito, toda a inocência era nossa. Depois, depois o tempo passou. A gente acabou entrando na oitava série.
E acabou descobrindo que olhar só não satisfaz.
Enfim, a gente virou gente.

quinta-feira, novembro 2

Quando eu ouço a tua voz me dá vontade de chorar

Deve precisar só de cinco minutos pra ficar toda embelezada assim. E ainda sorri tão sincero. E eu podia passar horas só olhando ela sorrir.
Mas quando eu ouço a voz dela me dá vontade de chorar.
Talvez pela indiferença que faz a mim, ou pela voz soar triste mesmo.
Parece até que ela é fragil e que eu preciso abraça-la pra que ela se sinta protegida. Eu gosto de pensar isso, porque me faz sentir capaz, mesmo que eu não seja.
Mas toda a força que ela tem fica clara quando ela anda. E ela quase não anda, flutua. Os pés dela raspam o chão, mas eu sei que ela não precisa tocar nele pra se mover. E ela fala alguma coisa bem doce, só pra ficar no desejo.
E na maior parte do tempo é como se eu soubesse o que ela vai dizer, porque ela sempre diz as coisas obvias. Mas eu fecho os olhos e escuto a voz dela. E fico repetindo pra mim a mesma frase até me cansar.

Os vícios de linguaguem tão clichê que ela tem me fascinaram desde a primeira vez. Tanto que até adquiri alguns pro meu próprio vocabulário.
Meu pequeno vocabulário, que podia se resumir só em ELA. Eu poderia então viver disso, do ela e da voz dela. E da voz dela dizendo ela, ela, ela, ela, ela... Eu não me cansaria nunca. Eu saberia o que quer dizer, ela saberia também. Todos ficariam felizes. E tudo bem sentir vontade de chorar.
E bastaria pra mim passar o resto da minha vida ouvindo os ecos da voz dela sussurrando ela, ela, ela, ela. Até que ela se tornasse eu, e eu pudesse finalmente durmir no colo dela enquanto a voz dela cantava green day.

Ficaria muito na cara se eu pedisse pra gravar ela falando qualquer coisa?

quinta-feira, outubro 26

O cão.

A mãe entrou na sala. Ouviu latidos. Que cachorro do inferno. Os latidos ficaram mais fortes. Fica quieto. Mas o cão continuava. Vai apanhar se eu te pegar. Não adiantava, ainda se ouvia os gritos. A mãe começou a procurar o cão afim de repreende-lo. O latido parou. Onde diabos tinha se metido aquele cão. Nada. De repente tudo ficou quieto. Nem um sinal do pobrezinho. Olhou em volta... o sofá, a teve, a mesa. Nenhum ruido, nenhum choramingo ou som de patas correndo. Eu falei pra não comprar esse cachorro, agora veja só. Silêncio. O cão nem pra dar o ar da graça. O tapete estava em ordem, o pote de comida cheia. Já tinha procurado em tudo, ele sumira. Vagava pela casa olhando em cada canto. Viu a fresta da porta. Faltou olhar o quarto da Julia. Entrou no quarto da filha. A filha via tevê imovel. A cortina balançava. O vento que vinha da janela era a única coisa que dava vida ao local. Olhou em baixo da cama. Nem sinal. A filha olhou pra mãe, voltou a olhar a tevê. Procurou no canto atrás da mesa. Desisto. Foi se arrastando até a porta. Ah, quase esquecera de perguntar. Julia, cade aquele cão? Julia encarou a mãe. Passaram se cinco segundos até que ela mudasse a direção do olhar pra janela aberta. A brisa tocava o rosto com serenidade. Ainda podiam ouvir o vento gemendo de desespero. Depois de permanecer mirando a janela, voltou a olhar a tevê. Julia não precisou de palavras pra que a mãe finalmente entendesse aonde foi parar o cão.

ps: ficou uma droga mas eu juro que a idéia era boa.

quarta-feira, outubro 25

Coelho.

Eu queria escrever um texto sobre coelhos.
Mas eu sequer gosto deles.
Nada contra, mas não sou muito fã.
Eles são fofinhos de mais. Iguais de mais.
Todos eles são assim - fofinhos. Me soa falso.
Não é como cavalos, que eu não gosto mesmo.
Tipo bicho feio, sabe?
De coelhos eu só não tenho nenhuma afeição.
Não tenho nada pra escrever sobre eles.
O texto que eu comecei tava patético de mais e eu apaguei.
Então eu só vou postar isso em homenagem ao Lennie.
Afinal ele não conseguiu os coelhos pra criar.
Ele merecia os coelhos, mesmo.
E eu queria escrever um texto de coelho pra ele.
Na verdade era mais pra mim.
Pra mim me sentir bem e tudo mais.
Mas azar, é só pra postar.


*Em memória de Lennie Small*

segunda-feira, outubro 23

Esquecendo.

A gente esquece sem querer?

Eu, definitivamente, sou um exemplo disso.
Vivo esquecendo tudo. O dinheiro. O celular. O estojo. De vez enquando esqueço a alegria por aí.

Mas o problema não é bem esse. Tem aquela coisa toda de quando envolve mais gente. Um livro que você prometeu emprestar. Um trabalho em dupla, a máquina pra filmar o evento, ou o número do apartamento dela.
-Tu vem aqui a dois anos, podia saber o número do apartamento, né?
-Mas é que tu tá sempre aqui em baixo quando eu chego, pra que eu ia decorar?
-Não é questão de decorar, tu devia saber.
-Não é que eu não saiba, eu só esqueci...
-Mas não devia.
-Não devia o quê? Esquecer?
-É, não devia esquecer nunca.
-Mas Ana... é só o número do apartamento, que importa?
-Que importa? Eu não sou importante pra ti?
-Ai Ana, claro que é...
-Então? Se eu sou tão importante assim pra ti porque tu esqueceu a porcaria do número do meu apartamento?
-Vai fazer escandalo por causa do número do apartamento?
-Agora eu sou escandalosa. E depois diz que gosta de mim.
-Não foi isso q... Ana, Ana, olha pra mim... Tu sabe que eu gosto de ti...
-Se gostasse não ia esquecer o número do apartamento.
-Ah Ana! É só a porc... não, não vai embora! Péra! Ana... É quinhentos e um! Quinhentos e um! Agora eu lembrei!
-Aposto que se eu perguntar daqui a quinze minutos tu nem lembra.
-Lembro sim. Quinhentos e um. Quinhentos e um. Decorei ó. Pode perguntar. Quinhentos e um.
-Tá... Tudo bem... Deixa assim. Já são três horas. Amanhã eu vou ver se tu sabe mesmo.
-Sei sim. Quinhentos e um, ó. Quinhentos e um.
-Tá, tá. Esquece. Eu to com pressa. Agora toma o teu presente.
-Ah, brigada.
-Eu não sabia se tu queria verde ou vermelho, dai comprei verde.
-Tá.
-Dá pra troca qualquer coisa.
-Aham.
-Er...
-Que foi?
-E o meu?
-Teu? Teu presente?
-É, meu presente. Tu não esqueceu que dia é hoje, né?

quinta-feira, outubro 19

Eu não gosto de você.

Não gosto mesmo.

Não é por você ser magra de mais ou por ter o cabelo muito curto. Não faria diferença se você fosse linda de morrer. Mas sabe, eu não gosto de você por inteira. E nem do jeito que você anda e nem como você pergunta o tempo todo que horas são.

Pra que você quer saber que horas são? Parece que tem sempre outro compromisso, que quer ir embora logo, que tá torcendo pro tempo passar rápido e poder ir fazer qualquer coisa que não seja estar ali comigo. E você ainda ri. E ri mostrando os dentes. Eu detesto quando você mostra os dentes. Parece que quer exibir como os vários anos de aparelho fizeram efeito. Olha como eu sorrio bonito. Preferia que você tivesse dentes tortos. Seria mais sincero.

Tem dias que você ainda se veste de preto pra mostrar que tá triste. Uiuiui eu sou depressiva-suicida. Olhem pra mim. Rídiculo. E daí se eu falo isso, logo fica nervosinha e me diz que não é suicida, que é bipolar. Que eu tenho que entender. Eu não tenho que entender nada. Eu nem gosto de você.

E aquela sua mania de assobiar a nona sinfonia. Ninguém gosta(você gosta?). Aposto que se Beethoven resucitasse ele se arrependeria de ter feito essa música, porque você assobia ela de mais. Não tinha música mais chata, não? Aposto que faz só pra provocar. Porque sabe que eu odeio a sua voz e principalmente o seu assobio. Mas não, ela tinha que assobiar a nona sinfonia o tempo todo. Só pra depois dizer que sabe tocar no piano. Como se tocar piano fosse muito díficil. Como se só porque a música é velha pra caramba ela fosse bonita. E você também não é bonita.

Não posso esquecer que você fala francês fluentemente. Acho que se eu fosse pra França me mataria no segundo dia, porque você simplesmente arruinou a minha idéia do francês. Tudo que vem de você é tão frustante, que tenho medo de andar em algumas ruas ao seu lado e nunca mais ter vontade de voltar nelas. Eu parei de desenhar porque você também desenhava. E desenhava tão sujo que me deixava broxante pra sequer pegar num lápis.

E eu detesto o modo como você me olha. E você não olha no olho. Eu odeio tanto, mas tanto quando você não olha no olho. E você não olha o tempo todo.

terça-feira, outubro 17

A borboleta suicída

Todos almoçavam sem culpa. Era uma terça-feira normal, ou era pra ter sido uma terça-feira normal. Se não fosse pela borboleta suicida, ainda seriamos os mesmos. Mas ela veio. Ela veio e logo se foi, mas tenho certeza que não foi só em mim que deixou uma sensação de que a vida poderia ser dividida em o "antes e depois da morte da borboleta".

O almoço era pobre e ruim como sempre, cantina de colégio nunca foi famosa por comida boa. O atendimento é que tem que ser rápido, e naquele meio dia até que foi bem ágil. Talvez se tivesse sido mais devagar algum atrapalhado teria esbarrado na pobre borboleta e a livrado dá terrível morte. E ó, coitadinha, teve um horrível fim.

Contam as más linguas que ela já vinha cambaleando, meio torta da vista ou embreagada. Eu discordo, pois era tão jovem e cheia de vida que dava até inveja. Mas isso não importa, a borboleta deslizava pelo ar na sua inocência visível, sem saber do seu triste futuro.

E eu vi, eu vi quando ela se aproximou. Aqueles segundos ficaram guardados na minha memória e sem dúvida na de todos que ali se encontravam. Ela se aproximou e tombou a primeira vez.
Nada. Ainda estava quase intacta. O primeiro choque passou despercebido e sem ferí-la. Mas ela não teve a mesma sorte duas vezes. Quando deu de cara(e corpo) novamente no ventilador, juro que vi metade da borboleta, assim sem enrolações, cair prum lado, e a parte final, pro outro.
Não foram só os gritinhos agudos das damas no local que me atrapalharam a refeição, ou as duas partes caindo no meio do refeitório, mas também a culpa que me consumiria por anos por ter estado tão perto e não ter feito nada.

Suicídio. A borboleta tinha cometido suícidio. O pânico se adonou de mim e por alguns segundos tive vontade de mergulhar no ventilador como a pobre borboleta. Mas logo meus desejos foram cortados pelo som irritante de algum mastigar. Este, que ao olhar pro lado descobri ser da menina que se encontrava sentada na minha frente. E ela inocente, não havia notado o trágico e inconsolável acidente que havia acontecido bem diante dos seus olhos.

sexta-feira, outubro 13

Fontes

Esse tipo de fonte que a gente usa pra escrever aqui no editor de texto é muito ruim.
Quem tem um blog no blogspot sabe bem.
É tipo, sem graça, sabe?
Tipo Times New Roman ou Arial(embora eu tenha quase certeza que é T.N.R).
E ainda tem esses "pauzinhos" em algumas letras. QUE DIABO DE GENTE ME POEM ISSO NAS LETRAS?
Eu não sei se dá pra entender do que eu to falando, mas tem até um nome.
Fonte Serifada, segundo meu pai.
Serifada, serifada, serifada... só o nome já é muito feio e desanimador.
Agora tu olha pra fonte(em alguma janela aí tem uma fonte serifada, sempre tem) e me diz, como as pessoas aguentam olhar pra ela? São pauzinhos, miseros pauzinhos que estragam tudo! Estraga toda a magia da fonte, da palavra, do texto. Me deixa estupefada!

Agora olha, olha esse post. Olha essa fonte. Olha que mágica, que magnifico ler elas. Olha bem, olha e me diz, não é lindo? Não é meigo? Elas são redondinhas e perfeitinhas e preenchem tudo que precisa no espaço. Não invade ele com "pedacinhos" de nada. Elas são organizadas, atraentes, interessantes.
Elas são de familia, sabe? De familia.
Tem que dar valor pra elas e dai elas vão te mostrar como tudo é lindo.
Elas me deixam mais feliz - juro - e me encantam quando eu olho pra elas.
Mas não é só não ser serifada, tem que ser especial. Tem algumas fontes que são assim.
Que são atraentes e me deixam até nervosa, que tem a essência da palavra nelas, que carregam toda a responsabilidade e o peso de serem esse meio de comunicação.
Elas são simplesmente apaixonantes, simplesmente libertam tudo de bom em mim.
Eu leio e fico reluzente, e fico excitada de prazer com o texto todo, com a música toda que elas sopram nos meus ouvidos.
Fico excitada com a imagem perfeitamente desenhada na tela.
Como se fosse escrito por gente, como se fosse sem querer mesmo sendo muito padrão pra ser sem querer. Mesmo assim ela me vem sem querer e de repente eu olho pro lado E DEU. DEU. Eu to infeitiçada por ela, completamente louca de desejos.
E ainda tem o modo como ela me invade sem pedir licença e me marca e me marca e me deixa cicatriz pelo corpo inteiro como depois de uma noite inteira de prazer dolorido. E a dor que ela deixa vai fundo. Vai fundo e chega no coração e chega em tudo me matando aos poucos.
Me maxuca como punhal, me tortura.
Mas quer saber? Eu gosto.

Do you like to hurt?
I do. I do.
Then Hurt me.


Eu tava falando do que mesmo? De fontes?

terça-feira, outubro 10

Impotente.

Eu não aguento mais começar meus textos com "ele" e "ela". E o texto todo ser ele e ela prá cá, ele e ela pra lá. Isso cansa, sabe? Eu até tento botar uns nomes no meio, mas ainda fica muito ele e ela, ele e ela, ele e ela!
Sei lá. Eu não sei mais escrever textos.
(Como se eu alguma vez o soubesse)
As palavras tem me parecido vazias e isso me irrita.
Então acho que vou procurar algumas palavras novas, alguns temas novos, não sei.
Alguma coisa pra inovar.
Um outro assunto.
Ventilador de teto, de repente. Tem tanta coisa pra se falar deles.
Qualquer coisa. Mas hoje não.
Hoje eu só quero me lamentar como eu não sei escrever e como não tenho mais o que escrever.
E que esse blog é uma porcaria.
E que só não deleto porque me apeguei a ele.
Tenho uma necessidade de escrever nele e pensar que ninguém lê. Que não tem do que se esconder ou ter vergonha.
Que ninguém vai ver entre as linhas o que eu sinto em relação as coisas faladas e que ninguém vai desvendar meus segredos ou a minha mente lendo tudo isso.
Afinal é só um blog de crise existencial adolescente.
Ah não, esse é o outro blog. Esse qui é o de textos falidos mesmo.
Toda escritora frustada tem seus textos falidos que insiste em continuar escrevendo.
Não flui, não sai, não tem nada aqui que eu consiga passar direito.
É muito desabafo e pouco romance.
Mas eu continuo firme e forte. Tentando como um homem velho que tenta ter uma ereção e não consegue.
Insistente de mais.

É como disse o bacana do Luis Fernando Verissimo numa das suas incriveis crônicas:
"E a minha literatura, broxa".

É isso aí, eu estou impotente.

segunda-feira, outubro 2

Ele e ele

Vinha de dentro, bem de dentro mas ambos sabiam que vinha.
Talvez todos a volta também soubessem.
Era provavel, pois não havia misterio em decifrar os sorrisos deles.
Embora eles ainda se enganassem, e fingissem não sentir esse turbilhão de sentimentos que só seria mais obvio se saisse no jornal.

Em um a gente via a alegria tremenda, os sentidos aguçados.
Ele vinha faceiro e sorrindo nos últimos tempos.
Em outro a gente ouvia a canção de amor que falava deles mesmos.
Ele cantarolava alguma coisa bem brega todos os dias.

Ele nem gostava dessas coisas, tinha o corpo pra aproveitar.
Era de todo mundo e todo mundo era dele também.
Romance é coisa de livro, eu não sei me apaixonar. O brilho no olhar não mente, meu rapaz.
Ele era surdo.

Abraçados como um só, eles riam juntos. Apenas amigos, aham.
Embora um pro outro os lábios ainda fossem virgens, o coração já tinha sido violado.

Eu tenho até namorada. Ele justificava.
Que pena pra ela, que pena pra ela.

sexta-feira, setembro 29

Ser.

Cansei de ficar tendo que pensar e manter o que ser o tempo todo.

Ou eu não sou nada, ou você que se dê o trabalho de querer que eu seja algo.

Quer que eu seja louca? Serei a mais maluca das pessoas que já conheceu.
Quer que eu seja amiga? Vou te ouvir durante horas e dar o melhor de mim.
Quer que eu seja superior? Rirei das tuas tristezas e te ignorarei por dias.

Quer que eu seja culta? Que eu seja uma freira? Uma poeta melancolica? Uma grande empreendedora? Quer que eu seja comunista? Ativista? Entediante? Que eu seja exótica? Sensível? Escandalosa?

Serei tudo isso.
E mais: serei eu mesma o tempo todo.

terça-feira, setembro 26

(OA) Orkutianos Anonimos

Oi meu nome é Luisa, e eu tô a 15 minutos sem entrar no orkut.

É com muita força de vontade que inicio um longo processo pra abandonar a futilidade que é o orkut. Como todas as drogas, tem seu lado bom. Por vezes me vi feliz e contente graças a ele. Mas aprendi que as consequecias são sérias, e definitivamente, eu disse definitivamente, eu vou parar de usar.
Pra começar, me livrei de todas as comunidades que entrei sem propósito.
Festejo: De 1002 consegui passar pra 199. Me sinto muito vitoriosa.
É claro que tive uma certa luta, e confeço que em certo periodo, uma recaída, na qual me manti com 800 comunidades durante meses, e comecei a entrar nelas outra vez.
Mas superei! E hoje posso dizer que sou uma pessoa quase nada maniaca por comunidades. E é por isso que me vejo apta a tentar largar de vez esse mau que me persegue a mais de dois anos. Estou completamente ciente do quanto ele pode interfirir na minha vida, e juro, juro mesmo, (juraria por deus se agreditasse nele) que não repitirei esses erros.
Uma vez, me convidaram pra sair, eu disse que não, e passei o dia todo olhando os perfils de meus amigos, enquanto eles tinham a noite mais perfeita de todas. Outro dia, fiquei 10 h sem comer por causa do orkut.
Por isso tenho certeza da minha decisão.
E quanto as comunidades que tristemente abandonei, tive total desepego e hoje me sinto mais livre e feliz.

Tchau, o orkut voltou a funcionar.

sexta-feira, setembro 22

Nem uma conversa de elevador.

Ela vinha da direita, acompanhada da bolsa e do botoon ativista.
Ele vinha da esquerda, com a mochila rasgada e o olhar parado.

Ela era bonita e simpática. Ele era mau humorado e estranho.
Na carteira de identidade dela grafava "Priscila Werneck Siemens".
Na parte de trás da mochila dele a mãe rabiscara "Leonardo A. Assunção".

Priscila nunca chegava atrasada e andava devagar.
Leonardo tinha coisas de mais pra fazer e estava sempre apressado.

Enquanto ela era politicamente correta e não dava pra qualquer um, ele só não comia todas as menininhas porque era lerdo de mais.
Priscila disputava o gremio estudantil, e tinha futuro.
Leonardo disputava o computador com a irmã todas as tardes.
Ele não tinha futuro, mas mais do que Priscila, tinha presente.

Aquele dia ela estava com a camiseta preta de bolinhas que ele adorava.
Ele calçava o mesmo tênis preto que ela nunca notara.

Priscila sempre ocupada, passava as tardes bolando e embolando projetos.
Trabalhava em metas para uma sociedade mais justa e feliz, buscava com determinação o olhar de orgulho dos pais e procurava ser responsável o tempo todo. Cuidava da irmã no fim de semana, trabalhava a tarde, no meio tempo entre tudo lia.
Leonardo não. Leonardo estudava o pouco que era necessário e no resto do tempo fazia qualquer coisa que desse vontade. Não achava nem as cuecas no quarto bagunçado, quanto mais alguma atenção dos pais que não fosse repreendimento. Leonardo não tinha dinheiro mas saia todas as noites. Festa. Bar. Pubs. Shows. Cinema. Bebia e fumava sempre que podia, e quando não podia também.

Ele forçava um meio-sorriso quando passava por ela.
Ela nem sabia que passava por ele.

Se eles se conhecessem, ela diria que ele é um filhinho de papai que tem tudo que quer. Ele diria que ela deixou de ser algo há muito tempo.
Ele riria se ouvisse o comentario de Priscila. Priscila choraria se ouvisse o dele.
Ela tinha cabeça de mulher mas ainda era uma menina.
Ele tinha cabeça de menino mas já era um homem.

A direita era o caminho do colégio dela.
A esquerda era o caminho da parada do ônibus dele.
Priscila cursava o terceiro ano com notas excelentes em tudo.
Leonardo ia pra faculdade de Publicidade e durmia na aula.

Naquele dia o caminho da direita estava mais escorregadio(ou seria o caminho da esquerda?).
Ela vinha com cuidado olhando aonde pisava.
Leonardo quase corria e batia em tudo.
E bateu nela. Um caderno foi parar no chão.

Ela ficou furiosa. Ele mau percebeu.
Eles eram completamente opostos e qualquer forma de abordagem com ela não daria certo.

Ele - Acho que vai chover, hein?
Ela - Com certeza.
Ele - Tô ferrado se chover...
Ela - Eu não.

Eu disse QUALQUER FORMA.

sexta-feira, setembro 8

Manipulando sentimentos

Qualquer coisa que o fizesse sorrir seria bom o suficiente
eu mesma daria tudo pra ve-lo feliz
talvez tenha induzido ele a isso, confeço
sempre fui meio manipuladora das coisas
mas eu nunca entendi de namorados,
ou pelo menos era o que eu achava até ver ele em meus braços.

domingo, setembro 3

Minha preferida

Confeço que nunca tinha admitido, mesmo depois de tantos anos, como ela era minha preferida.
As duas eram paricidíssimas, porém mais que sua mãe, sempre soube qual era qual. E na verdade a Minha Preferida era muito mais charmosa. Sempre fora, desde criança. Seus cachos quase que perfeitos, invejavam a qualquer um. As pessoas passavam os olhos por ela e a sabiam mais bonita. Não que a Outra fosse feia, pelo contrário. Sempre fora muito graciosa, mas era meiga de mais. Boa de mais. O que fazia a Minha Preferida especial.
Sempre pensei tratar as duas iguais, mas na verdade, sabia que me preucupava mais em agradar a Minha Preferida, enquanto pra Outra, fazia tudo de qualquer jeito, mesmo porque ela nunca se importou com essas coisas. Mas a Minha Preferida era caprichosa, gostava de ter as coisas que ela queria e como ela queria, era exigente. As vezes me pegava brabo com ela, e a perdoava sem pensar duas vezes, enquanto a Outra, quando me enfurecia, tirava-lhe alguns privilégios. Nunca fui muito rigoroso e nem mimei nenhuma delas, mas a Minha Preferida gostava de se revoltar, enquanto a Outra era certinha em tudo.
As duas eram muito diferentes, mas só a Minha Preferida parecia entender, e tentava acentuar o máximo possível essa diferença. Minha Preferida sempre procurava fugir da irmã, que a perseguia. E já não bastando serem gêmeas, a Outra procurava andar como siamêssas.
A Outra tocava piano desde os quatro anos, instrumento que eu mesmo lhe ensinara no começo, e pelo qual era completamente apaixonado. Mas a Minha Preferida dançava balé. Talvez por ser diferente de mim e não ter os meus defeitos, acabei me encantando mais por seus pés com sapatilhas do que pelos dedos em harmonia perfeita da Outra. E mesmo quando Minha Preferida trocou a dança pela guitarra, cresci meu gosto por rock e aprendi a gostar dos barulhos e ruídos que fazia durante a tarde. Alguns me diziam que ela estava ficando rebelde de mais, mudara o corte de cabelo e o jeito de vestir, a fim de criar uma personalidade, que obviamente, fosse diferente da irmã. Mas não me importava, gostava do seu jeito adolescente de ser, sempre me surpreendendo e aprontando. Enquanto a Outra, era a filha perfeita que um dia percebi rejeitar.
Com o tempo entendi que filhos não se comparam e aprendi a amar as duas iguais. E sem gostando mais de uma do que da outra.
Hoje, depois de anos, ambas já crescidas e casadas, espero-as pra jantar. Reservo o lugar do meu lado pra Minha Preferida, que deixou de ser preferida, e junto ao prato, de presente, um anel de ouro simbólico, com um embrulho que eu mesmo preparei. E do outro lado da mesa, o lugar da Outra, com uma bijoteria que achei pela casa, num lindo pacote florido de supermercado.

domingo, agosto 20

Arco Iris

Tá se rindo assim por quê?
Não tá vendo o arco-íris indo embora?
(estupidazinha)

domingo, agosto 6

O hotel

(barilô, barilô, barilô-che!)

O hotel;

Se eu tivesse lá de novo não faria nada diferente. Não mudaria nem a posição da escova de dente.
Do shampoo que com certeza usaram.
Das meias espalhadas pelo quarto.
Das roupas de neve no chão.
Dos sorrisos e até das tristezas no rosto.
Eu não mudaria o canal da teve, que ficava ligada o dia todo no 15.
Ou as malas entre abertas e a porta escancarada pra quem quisesse ver as calcinhas no aquecedor.
Atropelaria de novo as mesmas pessoas.
Me atrazaria pras mesmas festas.
Repetiria os dias deitada no corredor.
E não esitaria em pegar o elevador todo dia pro segundo andar.
Invadiria o quarto dos outros do mesmo jeito.
Não temeria que invadissem o meu quarto, como tantas vezes o fizeram, mesmo quando desconhecidos.
Ignoraria a sacada no quarto como fizemos durante toda a semana.
E as manchas de verde/azul na pia causadas por um acidente proposital.
Brigaria com elas pra arrumarem o quarto enquanto minhas próprias coisas estavam jogadas.
E tomaria banho de banheira todas as vezes, como se tivesse direito a tanta mordomia e tanta coisa boa junto.
E igual a antes, julgaria quem se encontra longe de mim enquanto me esbaldaria em tamanha diversão, sabendo que a neve o frio me esperam do lado de fora do hotel.
Do lado de fora de mim.

quinta-feira, agosto 3

Seja.

Texto que eu escrevi já faz tempo, mas que eu gosto bastante.

Seja diferente.

Mude. Desafie. Questione. Pense. Liberte-se. Invente. Use coisas feias. Ousadas. Bonitas. Chatas. Legais. Novas. Velhas. Cresça. Imagine. Brinque. Trabalhe. Roube. Minta.

Vire comunista. Compre um lenço vermelho. Uma camisa do Che Guevara. Um desejo de mudar o mundo. Um boné do Lenin. Um livro do Marx. Vire um alienado. Um consumista. Compre lenços. Camisas. Desejos. Bonés. Livros. Tvs. Computadores. Relógios. Canetas. Brinquedos. Roupas. Amigos. Beba Coca-cola. Frequente o McDonalds. Vire Mano. Playoby. Pagodero. Emo. Punk. Dark. Gothico. Indie. Vire um chato. Compre um all star. Compre um adidas. Um reef. Um nike. Uma melissa. Uma Havaiana. Um mundo azul. Só use rosa. Ou preto. Verde. Amarelo. Vermelho. Use munhequera. Coisas quadriculadas. Lacinhos. Apareça na capricho. No fantastico. Na MTV. Vire cópia. Faça cópias.

Olhe a menina. A moça. As curvas. Não olhe no olho. Olhe a bunda. Os peitos. Os lábios. O líbido. Mas não olhe no olho e nem pense em olhar por dentro. Esse sim. Aquele não. Justifique os meios pelos fins.

Manipule emoções. Apenas chore. Grite. Chore. Sorria. Chore. Pule. Chore. Ria. Chore. Esqueça. Mas chore. Vire insensivel. Grite. Sorria. Pule. Ria. Esqueça(sempre). Mande um alô de marte. Um beijo de saturno. E um olhar triste da terra.

Veja tudo se acabando.
Amores destruidos.
Amizades esquecidas.
Veja. Ignore. Esqueça.

Não pense.
Não ame.
Não lute.
Apenas veja;
SEJA.

terça-feira, julho 11

podres

[não é pra fazer sentido, é soh pra posta]

e toda esse sexo e toda essa droga e tudo que os consome e os mantem vivo ao mesmo tempo em que morrem tão claramente. isso me dá medo medo de que eu seja o eles do passado

e isso, isso doi em mim


mas meu maior medo é de que eles sejam eu do futuro

e por mais que eu saiba de todo o meu nojocom o tempo a gente muda de conceitos e eu tenho tanto medo caratanto medo de ir perdendo parte de mim e de ir ganhando parte deles nesses tempos e por onde a gente começa a se meter por onde a gente começa a se fazer real a gente tá virando eles

eu sei que a gente ta virando eles e a gente idolatra eles enquanto a gente fala mal de toda essa orgia e de toda essas drogas, esses alcools e os cigarros e tudo mais que eles conseguirem enfiar no corpo e a gente tem virado eles mesmo com o alcool e os cigarros não tendo se tornado vicio ainda, e até todos os meus cds tem se tornado eles e todas as minhas manias e as minhas girias e as minhas roupas e a gente ta virando eles e a gente sabe e a gente quer mas a gente fala mal deles como se fossem bixo mas a gente fala bem deles com se fossem estrelas de verdade que a gente possa tocar enquanto a gente eh tudo que na verdade eles querem ser, a gente sabe que eles nos invejam bem no fundo e bem no fundo a gente tem nojo deles mas todo mundo continua fingindo que a gente quem quer ser eles e eles quem nos dezpressam enquanto todo mundo sabe que ta tudo bem que ta tudo bem e a gente vai vira eles mas eles nunca mais vao vira a gente


e é por isso que sair ganhando não é sempre bom, e mesmo fazendo o que a gente quer, porque a gente quer virar eles, e a gente luta pra isso, por mais que eles sejam pateticos e viciados e tenham caido numa rotina, a gente quer virar eles e provavelmente a gente vai virar eles, e eles não, eles vão cair e eles não vao ser nem a gente e nem eles, e nem nada. eles vão cair e vão morrer, e vão deixar de ser os bons, eles vão ser os podres, eles vão cair, cair como fruta podre da arvore, eles vão morrer morrer de overdose, de medo, de tédio. e a gente vai crescer enquanto degrada junto com eles, porque eles já eram podres, jah eram frutas podres se pindurando na arvore, e a gente ainda tá virando fruto, a gente ainda é novo e a gente tem tudo pela frente e eles nao, eles vão cair. cair e morrer. E eles não chegam a lugar nenhum, mas a gente tambem nao, pq a gente vai ser eles. A gente sabe qeu a gente vai ser eles e a gente nao se importa, porque a gente idolatra eles, e a gente vai durmir com eles, velhos e bebados e drogados e como todos aqueles que hoje dormem com eles. e a gente vai durmir com eles e se sentir especial, mas só no começo, porque depois a gente vai ficar como eles, rotineiros, decadentes, viciados, podres, e nem vai fazer diferença comer o mendigo ou o superstar, porque eles são a msitura do mendigo e do superstar, e a gente vai ser eles, a gente vai ser o medigo e o superstar na cama a gente vai ser melhor do que eles pq a gente começo antes, a gente vai ser mais jovem, vai ter mais gente olhando pra gente, querendo ser a gente, e eles nao, eles tão ficando podre, podres podres podres de bebados e de drogados, eles tão podres e a gente tá puro, e bonito e se é que um dia a gente vire eles, porque a gente é perfeito, a gente é o que todos invejam, mas a gente vai vai e vai e cai, e de uma forma ou de outra a gente tambem fica podretalvez nao por ficar igual a elesmas porque quando a gente cresce a gente fica podre, a gente tem 30 anos e bebe e a cabeça parece que vai explodir, a gente transa uma vez por trimestre, e a gente tem tudo caindo, tem pouco dinheiro e acertam sempre as mesmas tosquices que nem mais tem graça, e ser diferente vai ser sinal de ser um falido. e hoje em dia nao, hj em dia a gente tem tudo na mao, a gente pode vira noite a gente pode transa o dia inteiro e a gente tem tudo no lugar a gente erra e a gente gosta de ser errado, de ser diferente, porque a gente é igual mas a gente é que nem eles, a gente é jovem e ser velho nunca, a gente vai ser sempre jovem com essa inocencia que a gente finge ter, mas que a gente sabe que tem, e a gente ve droga, e a gente ve sexo e a gente quer ser como eles, a gente quer ser essa fruta podre da arvore, e a gente é podre por dentro e bonito por fora, e a gente vai ver os novatos que vao querer ser a gente e a gente vai rir da cara deles e esquecer que a gente ja foi o q eles sao, e esquecer de avisar eles pra nao entrarem nessa vida bandida de a gente ser eles e eles serem a gente por que isso cansa, e que eles podem ser eles mesmos, sem problemas, que a gente nao se importa se as coisas forem diferentes soh pra varia, e mesmo depois que a gente virar eles, e se matar de tanta droga e de tanto odio e de tanta coisa fora de si a gente nem mais vai saber se os novatos no fim viraram a gente e se a gente também conseguio virar eles, porque eles sabem que a gente é o eles do passado, e isso doi, isso doi neles

sábado, julho 8

os tempos bons não estão tão próximos

e é a comida que acaba, é a tristeza que aumenta, é a pobreza falando mais alto e os tempos bons nem estão tão proximos...

o olhar perdido, o desejo de ter um lugar melhor, um passeio no campo um desejo de mudar tudo um desejo de indiferença tão grande que nem sequer deixa que haja movimento
e é um clima de terror é a guerra a guerra que se tem em casa e nem amor nem amor se consegue reconhecer em tempos assim por mais que o sorriso seja forçado, por mais que as lagrimas nunca sejam contidas
nao tem ngm pra ter piedade nao tem ngm pra salvar ngm e onde ficam todos os bons cristãos nessa hora?
e onde ficam os nossos corações partidos olhando como quem olha qualquer coisa pra esse bando de gente morrendo e a gente morre por dentro e deixa, diferente deles, a gente deixa a gente morrer a gente nem tentou mudar e eles foram incapacitados morrendo diante dos nossos olhos enquanto a gente compra um pacote de pipoca e morre com eles

e o jeito cuidadoso e o temor de um ataque e a mentira da felicadade invade invade tudo até que não dá mais e se cai de desespero se transformando em um corpo que nem se quer sente mais amor que nem se quer sente mais afeição que nem se quer sente mais dor que nem se quer sente mais.

sexta-feira, julho 7

(nov)ela

e ela se enche de raiva e morre por dentro
enquanto eles assistem o ultimo capitulo da novela
e ela faz parte da novela
entediante como tal
alienando quem a conhece e mesmo quem a perdoa
e a faz melhor
alienando sempre
e dando informações erradas
as vezes por interesse proprio
as vezes por puro gosto
as vezes também eh sincera
sincera de mais
e coloca na teve a realidade


ela chora e chora
e anda sensivel e vulneravel
e ela chora enquanto eles olham teve
qualquer coisa
qualquer desvio
qualquer falha no cotidiano
um imprevisto
um pouco de ousadia de mais
um pouco de esperança de mais
faz ela cair
e despenca
e chora
e chora por dentro
e tem chorado por fora
como quem nao sabe o que faz
mas chora puramente
ciente que esta sendo sincera consigo mesma
mas como a novela
eh entendiante
eh patetica
serve de passatempo pra eles que assistem a teve
serve de passatempo pros seus amigos que fingem q ainda lembram dela
que fingem q nunca vao esquece-la
pros seus amigos que ela nao tem

e ela chora
e chora sobre magoas antigas
e reabre todos os sentimentos esquecidos
mas chora
chora com gosto
com raiva
e aparenta estar braba e irritada
e nervosa
e bate a porta
e atrapalha a novela
o ultimo capitulo da novela
e tem medo do choro
tem medo de q eles se irritem e tudo piore
tem medo de parecer fraca de mais
e ela sabe que ela é fraca de mais
mas a muito tempo ela deixou de conseguir desfarçar
ela agora chora
sobre qualquer desculpa
chora tudo que em anos ela nao conseguio
que perante a emoçoes ela reprimiu
hj ela chora ainda que triste
ainda que feliz por conseguir chorar de novo
e poem os sentimentos pra fora
pra qualquer um pegar e ver
e fazer dele um lixo
e rir dela
e chorar com ela


e é como se chorasse rios e rios de lagrimas
é como se a consciencia nao fizesse sentido e as horas passassem em meio a tanta agua
e ela cansa
e ela cai
e ela chora enquanto eles morrem assistindo a novela.

segunda-feira, julho 3

...a carne é fraca?

E me permito brincar com o título de um filme muito interessante que eu ainda não vi;

a carne é fraca?
Será que é o corpo que não consegue resistir aos "pecados"?
(obs: Leia pecados como: as coisas que não gostariamos de fazer, mas não nos controlamos e fazemos de qualquer jeito. )

Eu as vezes acho que a mente quem brinca com a gente, ela quem quer fazer o errado, quer ser errada.
E não é o corpo que se deixa levar, mas a alma. O pensamento. O ciente. A razão que nos leva a ser assim, que nos leva a querer o que não se pode. E o corpo não diz que não, mas quem diz que sim é a cabeça. Quem diz que não é a sociedade, e a gente diz que sim, a gente diz que sim, que sim, que sim. QUE SIM. A linha entre a gente e o corpo, e a alma e a gente de novo e tudo que couber - a linha entre isso, não existe. E no fundo é tudo desculpa. E no fundo o corpo quer. A mente quer. A gente quer. E a gente não resiste. O ser humano nunca resiste. O ser humano é fraco. E a carne então, a carne é fraca.

quinta-feira, junho 29

I will catch you in the rye...

Eu vou seguir você até a escuridão
se eu apanhar você atravessando o campo de centeio
se eu apanhar o campo de centeio
eu vou atravessar você
eu sou a escuridãoe
eu vou seguir você
eu vou seguir você pelo campo de centeio
se eu atravessar a escuridão
eu vou agarrar você atravessando o campo de centeio
eu sou o campo de centeio
eu vou apanhar a escuridão
eu vou seguir você se você apanhar o campo de centeio
eu sou você atravessando a escuridão
eu vou seguir a escuridão até o campo de centeio
se eu apanhar o campo de centeio na escuridão
se eu seguir você e a escuridão
eu vou seguir você até o campo de centeio...



pra brincar um pouquinho;

ps: esse era o nome do blog originalmente