sexta-feira, setembro 29

Ser.

Cansei de ficar tendo que pensar e manter o que ser o tempo todo.

Ou eu não sou nada, ou você que se dê o trabalho de querer que eu seja algo.

Quer que eu seja louca? Serei a mais maluca das pessoas que já conheceu.
Quer que eu seja amiga? Vou te ouvir durante horas e dar o melhor de mim.
Quer que eu seja superior? Rirei das tuas tristezas e te ignorarei por dias.

Quer que eu seja culta? Que eu seja uma freira? Uma poeta melancolica? Uma grande empreendedora? Quer que eu seja comunista? Ativista? Entediante? Que eu seja exótica? Sensível? Escandalosa?

Serei tudo isso.
E mais: serei eu mesma o tempo todo.

terça-feira, setembro 26

(OA) Orkutianos Anonimos

Oi meu nome é Luisa, e eu tô a 15 minutos sem entrar no orkut.

É com muita força de vontade que inicio um longo processo pra abandonar a futilidade que é o orkut. Como todas as drogas, tem seu lado bom. Por vezes me vi feliz e contente graças a ele. Mas aprendi que as consequecias são sérias, e definitivamente, eu disse definitivamente, eu vou parar de usar.
Pra começar, me livrei de todas as comunidades que entrei sem propósito.
Festejo: De 1002 consegui passar pra 199. Me sinto muito vitoriosa.
É claro que tive uma certa luta, e confeço que em certo periodo, uma recaída, na qual me manti com 800 comunidades durante meses, e comecei a entrar nelas outra vez.
Mas superei! E hoje posso dizer que sou uma pessoa quase nada maniaca por comunidades. E é por isso que me vejo apta a tentar largar de vez esse mau que me persegue a mais de dois anos. Estou completamente ciente do quanto ele pode interfirir na minha vida, e juro, juro mesmo, (juraria por deus se agreditasse nele) que não repitirei esses erros.
Uma vez, me convidaram pra sair, eu disse que não, e passei o dia todo olhando os perfils de meus amigos, enquanto eles tinham a noite mais perfeita de todas. Outro dia, fiquei 10 h sem comer por causa do orkut.
Por isso tenho certeza da minha decisão.
E quanto as comunidades que tristemente abandonei, tive total desepego e hoje me sinto mais livre e feliz.

Tchau, o orkut voltou a funcionar.

sexta-feira, setembro 22

Nem uma conversa de elevador.

Ela vinha da direita, acompanhada da bolsa e do botoon ativista.
Ele vinha da esquerda, com a mochila rasgada e o olhar parado.

Ela era bonita e simpática. Ele era mau humorado e estranho.
Na carteira de identidade dela grafava "Priscila Werneck Siemens".
Na parte de trás da mochila dele a mãe rabiscara "Leonardo A. Assunção".

Priscila nunca chegava atrasada e andava devagar.
Leonardo tinha coisas de mais pra fazer e estava sempre apressado.

Enquanto ela era politicamente correta e não dava pra qualquer um, ele só não comia todas as menininhas porque era lerdo de mais.
Priscila disputava o gremio estudantil, e tinha futuro.
Leonardo disputava o computador com a irmã todas as tardes.
Ele não tinha futuro, mas mais do que Priscila, tinha presente.

Aquele dia ela estava com a camiseta preta de bolinhas que ele adorava.
Ele calçava o mesmo tênis preto que ela nunca notara.

Priscila sempre ocupada, passava as tardes bolando e embolando projetos.
Trabalhava em metas para uma sociedade mais justa e feliz, buscava com determinação o olhar de orgulho dos pais e procurava ser responsável o tempo todo. Cuidava da irmã no fim de semana, trabalhava a tarde, no meio tempo entre tudo lia.
Leonardo não. Leonardo estudava o pouco que era necessário e no resto do tempo fazia qualquer coisa que desse vontade. Não achava nem as cuecas no quarto bagunçado, quanto mais alguma atenção dos pais que não fosse repreendimento. Leonardo não tinha dinheiro mas saia todas as noites. Festa. Bar. Pubs. Shows. Cinema. Bebia e fumava sempre que podia, e quando não podia também.

Ele forçava um meio-sorriso quando passava por ela.
Ela nem sabia que passava por ele.

Se eles se conhecessem, ela diria que ele é um filhinho de papai que tem tudo que quer. Ele diria que ela deixou de ser algo há muito tempo.
Ele riria se ouvisse o comentario de Priscila. Priscila choraria se ouvisse o dele.
Ela tinha cabeça de mulher mas ainda era uma menina.
Ele tinha cabeça de menino mas já era um homem.

A direita era o caminho do colégio dela.
A esquerda era o caminho da parada do ônibus dele.
Priscila cursava o terceiro ano com notas excelentes em tudo.
Leonardo ia pra faculdade de Publicidade e durmia na aula.

Naquele dia o caminho da direita estava mais escorregadio(ou seria o caminho da esquerda?).
Ela vinha com cuidado olhando aonde pisava.
Leonardo quase corria e batia em tudo.
E bateu nela. Um caderno foi parar no chão.

Ela ficou furiosa. Ele mau percebeu.
Eles eram completamente opostos e qualquer forma de abordagem com ela não daria certo.

Ele - Acho que vai chover, hein?
Ela - Com certeza.
Ele - Tô ferrado se chover...
Ela - Eu não.

Eu disse QUALQUER FORMA.

sexta-feira, setembro 8

Manipulando sentimentos

Qualquer coisa que o fizesse sorrir seria bom o suficiente
eu mesma daria tudo pra ve-lo feliz
talvez tenha induzido ele a isso, confeço
sempre fui meio manipuladora das coisas
mas eu nunca entendi de namorados,
ou pelo menos era o que eu achava até ver ele em meus braços.

domingo, setembro 3

Minha preferida

Confeço que nunca tinha admitido, mesmo depois de tantos anos, como ela era minha preferida.
As duas eram paricidíssimas, porém mais que sua mãe, sempre soube qual era qual. E na verdade a Minha Preferida era muito mais charmosa. Sempre fora, desde criança. Seus cachos quase que perfeitos, invejavam a qualquer um. As pessoas passavam os olhos por ela e a sabiam mais bonita. Não que a Outra fosse feia, pelo contrário. Sempre fora muito graciosa, mas era meiga de mais. Boa de mais. O que fazia a Minha Preferida especial.
Sempre pensei tratar as duas iguais, mas na verdade, sabia que me preucupava mais em agradar a Minha Preferida, enquanto pra Outra, fazia tudo de qualquer jeito, mesmo porque ela nunca se importou com essas coisas. Mas a Minha Preferida era caprichosa, gostava de ter as coisas que ela queria e como ela queria, era exigente. As vezes me pegava brabo com ela, e a perdoava sem pensar duas vezes, enquanto a Outra, quando me enfurecia, tirava-lhe alguns privilégios. Nunca fui muito rigoroso e nem mimei nenhuma delas, mas a Minha Preferida gostava de se revoltar, enquanto a Outra era certinha em tudo.
As duas eram muito diferentes, mas só a Minha Preferida parecia entender, e tentava acentuar o máximo possível essa diferença. Minha Preferida sempre procurava fugir da irmã, que a perseguia. E já não bastando serem gêmeas, a Outra procurava andar como siamêssas.
A Outra tocava piano desde os quatro anos, instrumento que eu mesmo lhe ensinara no começo, e pelo qual era completamente apaixonado. Mas a Minha Preferida dançava balé. Talvez por ser diferente de mim e não ter os meus defeitos, acabei me encantando mais por seus pés com sapatilhas do que pelos dedos em harmonia perfeita da Outra. E mesmo quando Minha Preferida trocou a dança pela guitarra, cresci meu gosto por rock e aprendi a gostar dos barulhos e ruídos que fazia durante a tarde. Alguns me diziam que ela estava ficando rebelde de mais, mudara o corte de cabelo e o jeito de vestir, a fim de criar uma personalidade, que obviamente, fosse diferente da irmã. Mas não me importava, gostava do seu jeito adolescente de ser, sempre me surpreendendo e aprontando. Enquanto a Outra, era a filha perfeita que um dia percebi rejeitar.
Com o tempo entendi que filhos não se comparam e aprendi a amar as duas iguais. E sem gostando mais de uma do que da outra.
Hoje, depois de anos, ambas já crescidas e casadas, espero-as pra jantar. Reservo o lugar do meu lado pra Minha Preferida, que deixou de ser preferida, e junto ao prato, de presente, um anel de ouro simbólico, com um embrulho que eu mesmo preparei. E do outro lado da mesa, o lugar da Outra, com uma bijoteria que achei pela casa, num lindo pacote florido de supermercado.