terça-feira, novembro 6

Cobaia 3

B - Tem certeza?
A - Sim. Tenho.
B - Mesmo?
A - Já disse que sim.
B - Eu sei que você já disse que sim, só queria estar completamente ciente de que é isso que você quer.
A - Tá.
B - É isso que você quer?
A - O quê?
B - Você sabe... Isso.
A - Ah... Isso.
B - É. Isso. E aí, você quer mesmo?
A - Claro que quero, por que não ia querer?
B - Vou saber, você é estranha.
A - Entre nós dois, pode ter certeza que a estranha não sou eu.
B - O que você quer dizer com isso?
A - Nada.

(...)

B - Por quê?
A - Por que o quê?
B - Por que você quer isso?
A - Não sei, eu só quero, tá legal?
B - Tá legal.

(...)

B - Só quer?
A - Hein?
B - Você só quer mesmo?
A - Só quero.
B - Será realmente que você "só quer"? Eu acho que tem outra coisa por trás disso.
A - Como assim?
B - Assim, eu não acho que seja só isso, como você diz.
A - Sim, essa parte eu entendi. Mas o que tem por trás disso?
B - Me diga você, é você quem o está escondendo.
A - Eu não estou escondendo nada.
B - Mentira.
A - Verdade.
B - Mentira.
A - Verdade.
B - Viu, você está escondendo, se não teria me dito o que era.
A - Não é nada!
B - Tudo bem, eu já entendi, não precisa me dizer se não quiser.
A - Ok.

(...)

A - Eu não estou escondendo nada.
B - Tá, tá.
A - É sério.
B - Sei.

(...)

A - Olha, eu não tenho nem porque esconder alguma coisa.
B - Eu não estou dizendo nada.
A - Não tenho nada a esconder.
B - Por mim tudo bem.
A - Sério mesmo, não tem nada por trás disso.
B - Certo.

(...)

B - Me diz uma coisa.
A - O quê?
B - Você é espiã ou alguma coisa do tipo?
A - Como?
B - Espiã... Aquelas pessoas que espionam, sabe?
A - Sei.
B - E aí, você é?
A - Espiã?
B - É!
A - Não, por quê?
B - Não mesmo?
A - Não.
B - Também, se fosse, você não me diria.
A - E por que não?
B - Você diria?
A - Ué, de repente...

(...)

B - Escuta só, eu não vou cair nessa de "se eu fosse eu contaria". Você é uma espiã e não quer me dizer.
A - Não sou.
B - Tudo bem você ser, acontece.
A - É, tudo bem, mas eu não sou.
B - Me prove.
A - Que eu não sou espiã?
B - Não, que você é uma galinha.
A - Ahn?
B - É, que você não é espiã. Me prove.
A - Ah tá.
B - Então, prove.
A - Espera aí, estou pensando.
B - Você pensa devagar pra uma espiã.
A - Mas eu não sou espiã.
B - Não fica querendo me enganar, figir que está pensando, ir no banheiro sair de fininho. Nada disso, agora eu já descobri, você é uma espiã e não tem nada que me faça mudar de opinião.
A - Olha cara, eu não sei o que está acontecendo, e nem da onde você tirou isso, mas eu não sou uma espiã.
B - Hehehe, tá, conta outra. Você não é espiã e eu sou um maniaco.
A - E o que tem de absurdo nessa frase?
B - Vamos fazer o seguinte: esqueça essa conversa, tá?
A - Perfeito. Outra solução melhor não teria.
B - Ótimo. Então isso nunca aconteceu.
A - Exatamente.
B - Isso.

(...)

B - Você vem sempre aqui?
A - Isso é uma cantada?
B - Depende, você quer que seja?
A - Céus! Não!
B - Não.
A - Não?
B - Não é uma cantada.
A - Que bom.

(...)

B - Hein?
A - O quê?
B - Você é sempre meio devagar ou é só hoje?
A - Eu não sou devagar.
B - Tá bom, então responde.
A - Responder...?
B - A pergunta.
A - Isso eu entendi.
B - Então por que não responde?
A - Porque...
B - Tá, eu perguntei se você vem sempre aqui.
A - Isso!
B - Isso o quê?
A - Não conseguia lembrar...
B - Não diga!
A - É... eu venho às vezes.
B - Que bom. É um lugar agradável, não?
A - Às vezes, às vezes...
B - Por que só às vezes?
A - Porque tem outras que não são agradáveis.
B - Eu perguntei o motivo.
A - Ah bom... porque sei lá, às vezes eu posso simplesmente ficar aqui sentada e tudo bem, já outras...
B - Se você diz. Mas eu gosto bastante daqui.
A - Que bom.
B - É bom mesmo.

(...)

B - Você vai ficar aqui o dia todo?
A - Não, já tava indo. Por quê?
B - Nada, só pra saber.
A - Tá bom.
B - Você não vai?
A - O quê?
B - Ir embora.
A - Daqui a pouco.
B - Tinha entendido que era agora.
A - Não. Mas pensando bem, vou indo.
B - Então tá.
A - Tchau pra você.
B - Tchauzinho. Até breve.
A - É... tchau.
B - Hei!
A - O quê?
B - Pode ficar tranqüila.
A - Com o quê?
B - Prometo não contar pra ninguém que você é uma espiã.

2 comentários:

Luiz Madeira disse...

AMO esses diálogos

Amanda disse...

conseguir fazer esse tipo de diálogo sem cansar é uma Arte.
gostei.